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26/01/2017

Febre Amarela: Veja entrevista com o infectologista Dr. Tiago Heringer

Infectologista do Hospital César Leite, Dr. Tiago Heringer, tira dúvidas sobre a doença

Um mapa divulgado pelo Ministério da Saúde, na quarta-feira, 18/01, mostra as áreas mostra as áreas de recomendação de vacina contra a Febre Amarela. Toda a região norte, Centro-Oeste, e parte da região Sul do país, devem se imunizar. No Nordeste, todo o estado do Maranhão, e parte do Piauí e também da Bahia devem se precaver contra a doença. No Sudeste, parte do interior de São Paulo e todo o estado de Minas Gerais.

O Ministério informou que o Espírito Santo continua fora da área de risco, mas com os acontecimentos que vem assolando a região de Minas – que faz fronteira com o estado, o governo capixaba decidiu tomar medidas de precaução em virtude da mata continua e sem barreiras entre o Leste de Minas até o interior do Espírito Santo. Esse é um pequeno panorama da Febre Amarela no país e como ela atingiu estados antes considerados imunes.

Apesar do surto de febre amarela estar concentrado nas áreas silvestres, ou seja, locais que concentram matas fechadas, a população de Minas Gerais, especialmente as que residem próximas a esses locais, estão preocupados com a possível proliferação da doença e começaram a buscar a vacina nos postos de saúde.

Em Manhuaçu, especificamente, existe um temor que o vírus possa se espalhar pela zona urbana da cidade. Porém, o médico infectologista, Dr. Tiago Heringer, explica que está praticamente descartada a possibilidade da doença se espalhar pelos centros urbanos, haja vista que os casos se concentram nas zonas rurais, onde a população tem maior dificuldade para se vacinar, além da presença mais significativa dos vetores.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Tribuna do Leste, Dr. Tiago Heringer, forneceu informações relevantes para o esclarecimento da população, tanto em relação a febre amarela como a administração das vacinas na rede pública de saúde.


TL – Dr. Tiago, como podemos classificar a febre amarela?

A febre amarela é uma doença causada por um vírus, que pertence a uma grande classe chamada arbovírus, que são os mesmos vírus da dengue, da própria Hepatite C, e ele pode ser transmitido por vários tipos de mosquito.

TL – Fala-se em febre amarela urbana e silvestre: é a mesma doença ou são vírus diferentes? Por que diz que o surto atual é de febre amarela silvestre?

O vírus que causa a febre amarela urbana ou a silvestre é exatamente o mesmo. Isso significa que os sinais, sintomas e evolução da doença são exatamente os mesmos. A diferença está “apenas” nos mosquitos transmissores e na forma de contagio. A febre amarela silvestre é transmitida por mosquitos (Haemagogus e o Sabethes) que vivem nas matas e na beira dos rios. Estes mosquitos picaram macacos contaminados e depois picaram pessoas que adoeceram. Por isso há relato de mortes de macacos em nossas regiões. A febre amarela urbana não existe no Brasil desde 1942 e é transmitida quando um mosquito urbano, no caso o Aedes aegypti, pica uma pessoa doente e depois pica outra pessoa saudável, transmitindo a doença. Exatamente como acontece com a dengue, zika e chikungunya.

TL – Pode ocorrer a transmissão direta do macaco para o ser-humano?

O macaco é um reservatório. Vários mosquitos picam e sugam o sangue desse primata e depois retransmitem para outros macacos. Ou se um humano entrar em determinada área florestal rural, por exemplo, ele pode ser contaminado pelo vírus que está dentro do mosquito e que foi adquirido do macaco. Não existe relato da transmissão direta do macaco para o ser-humano.

TL – A febre amarela pode ser transmitida pelo ar, ou por meio de contato?

Não. A menos que um mosquito, se tratando de um possível caso de febre amarela urbana – cujo transmissor é o Aedes, pique um paciente que tenha contraído a febre amarela e transmita para outra pessoa. Mas tudo seria via mosquito.

TL – Quais os sintomas da febre amarela?

No começo, é uma doença que se assemelha muito a dengue. Os sintomas iniciais são febre, calafrios, dor de cabeça intensa, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Mas diferente da dengue e o que chama mais a atenção é que ela tem um quadro de amarelamento da esclera (branco dos olhos), esse sintoma é conhecido por icterícia escleral (olhos amarelos). Além disso, o infectado também apresenta uma urina mais escura.

TL – Existe tratamento específico para a doença?

Não existe medicamento para combater o vírus da febre amarela. O tratamento é apenas sintomático e requer cuidados na assistência ao paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indicado. Nas formas graves, o paciente deve ser atendido numa Unidade de Terapia Intensiva.

TL – Então, a prevenção através das vacinas é o melhor método para evitar contrair a febre amarela?

Sim. A vacinação é a forma mais importante de prevenir a febre amarela. Tanto que é a vacinação frequente que impede que a doença de espalhe mesmo em áreas endêmicas. É preciso que ao menos 80% da população seja imunizada contra um vírus para prevenir a doença nestas regiões. A vacina é altamente eficaz e segura nos grupos indicados, conferindo, segundo orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), proteção duradoura com uma única dose. O Brasil, no entanto, opta por recomendar e oferecer ao menos uma dose de reforço após 10 anos da primeira. A grande vantagem da vacina é que, mesmo que a pessoa receba a picada ela está imunizada.

TL – Quem pode tomar a vacina?

Como é uma vacina produzida a partir de um vírus vivo não é todo mundo que pode receber. Pessoas com problemas de imunidade baixa não podem receber a vacinas. A vacina está indicada para crianças com mais de nove meses e adultos com menos de 60 anos. Bebês de nove meses podem tomar a primeira dose e um reforço aos 4 anos de idade. Para os adultos, duas doses, com intervalo de 10 anos, são suficientes para imunizar. Não é necessário repetir a vacina a cada década. Pessoas com mais de 60 anos devem tomar a vacina com algumas ressalvas. Tem que ponderar, às vezes o paciente tem 60 anos e possui uma constituição boa, apresenta uma saúde equilibrada. Deve-se considerar em um momento de epidemia e de surto vacinar pacientes acima de 60 anos, pois não existe uma contraindicação contra este ato. As pessoas que não podem mesmo receber a vacinas são aquelas que usam corticoide, imunossupressores (medicamentos, usados para evitar a rejeição do órgão transplantado), e que possuem AIDS em um estágio mais avançado. Mas cada caso deve ser considerado.

TL – Depois de ser vacinada, por quanto tempo a pessoa fica protegida da febre amarela?

Vários estudos mostram que uma dose é suficiente para fazer a proteção para o resto da vida. A vacina tem uma imunogenicidade (capacidade de induzi e reagir a uma resposta imunológica detectável) alta. Ela produz anticorpos contra o vírus de uma forma bastante eficaz. Mas o Ministério da Saúde do Brasil preconiza duas doses.

TL – Pessoas vem acampando na frente dos postos de saúde Manhuaçu para receber a vacina. É necessário este tipo de atitude?

A histeria é desnecessária sendo que não existe urbanização da febre amarela. Mas os movimentos dos órgãos de saúde são importantes para que haja um bloqueio da entrada da forma silvestre para a forma urbana. Realizando a vacinação por completa, em breve evitaremos que este surto se estabeleça em nossa cidade e no Brasil.

Publicado pelo Tribuna do Leste